Diálogo de Amor entre um Gongo e um Chocalho (1976)

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A produção eletroacústica de Cláudio Santoro tem suas origens em 1966 em Berlim. Naquela época Santoro produziu algumas telas e criou para isso uma fita magnética que deveria ser reproduzida de acordo com a aproximação do espectador ao quadro. Mas o seu interesse na manipulação eletrônica do som tem uma origem ainda muito mais remota: Santoro cita em suas memórias que apenas quando conheceu o sintetizador pôde reproduzir os sons que escutava em sua cabeça.

No período do exílio na Alemanha de 1969 a 1978, Santoro assim trabalhou de inúmeras formas com os mais diversos equipamentos eletrônicos. Na série "Mutationen", por exemplo, criou obras para instrumentos com instruções para que os instrumentistas criassem suas próprias fitas com manipulações simples, para posteriormente executar a obra em conjunto. Na série "Mutationen", na versão para quinteto de cordas é permitida qualquer tipo de combinação, desde Solos, Duos, Trio, Quartetos, com e sem fita, criando um número extraordinário de mais de 200 possibilidades combinatórias. Outras obras foram criadas gravando sons de sintetizador e recursos de mixagem com voz humana para chegar na obra final, como por exemplo no Ciclo Brecht. Toda esta produção eletroacústica era concebida em seu pequeno estúdio particular em sua residência em Schriesheim, na Alemanha.

No caso do “Diálogo...”, concluído em 1976, tudo leva a crer que a obra tripartite teve origem em seu primeiro e terceiro movimento o “Estudo in B” (sic), ou melhor “Estudo em sib”. O primeiro movimento, “Introdução (Melodia)”, usa a segunda versão do “Estudo in B” como se fosse um Prelúdio, criando a atmosfera e preparando o terreno para o Diálogo. A parte central onde a conversa entre o gongo e o chocalho se desenrola, é criada usando apenas estes dois instrumentos com manipulações de fita. A obra é concluída com o mesmo “Estudo in B”, agora com a participação do Gongo e o Chocalho, concluindo o seu relacionamento no “Idílio trágico”.

A obra mostra, como sempre, a capacidade sintética e criativa de Santoro e confirma com muita clareza algumas de suas mais fortes características: a originalidade, a força de expressão, a capacidade de envolver o ouvinte, a construção arquitetônica da obra e o sempre presente "fingerprint" de sua personalidade.

A escuta desta obra e os próprios instrumentos usados remetem-me a minha infância na Alemanha, berço da criação de toda sua produção eletroacústica, aonde em meio da vida cotidiana estas obras iam surgindo uma a uma, preenchendo os espaços de nossa casa e de minha memória auditiva.

Santoro transitou em diferentes estilos e linguagens, sempre com o espírito de inovação e vanguarda que o acompanhou durante toda sua vida. Infelizmente a sua produção eletroacústica sobreviveu apenas em algumas fitas magnéticas, que ainda precisam ser restauradas para que não se percam para sempre. Tenho esperança que iniciativas valiosas como este álbum levem a outros projetos voltados à recuperação da produção eletroacústica de Santoro, tão significativa para a compreensão de seu legado musical.

Por Alessandro Santoro (setembro de 2020)

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Cláudio Santoro (Manaus, 1919 - Brasília, 1989) atuou como compositor, regente, violinista e professor. É sem dúvida um dos nomes mais significativos da música de concerto no Brasil do século XX. Sua produção é tão numerosa quanto diversa. Santoro transitou por tendências composicionais contrastantes durante sua vida. Em fases diferentes compôs peças de caráter serial, aproximou-se do realismo-socialista, fez obras de caráter nacionalista e flertou com o experimentalismo e a eletroacústica. Passou um período relativamente longo na Alemanha na década de 1970 quando produziu diversas obras utilizando recursos eletrônicos.

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Cláudio Santoro's electroacoustic production has its origins in 1966 in Berlin. At that time Santoro produced some canvases and created a magnetic tape for this purpose that should be reproduced according to the viewer's approach to the painting. But his interest in electronic sound manipulation has an even more remote origin: Santoro mentions in his memoirs that only when he met the synthesizer he was able to reproduce the sounds he heard in his head.

In the period of exile in Germany from 1969 to 1978, Santoro thus worked in countless ways with the most diverse electronic equipment. In the series "Mutationen", for example, he created works for instruments with instructions for the players to create their own tapes with simple manipulations, to later perform the work together. In the "Mutationen'' series, in the version for string quintet any type of combination is allowed - Solos, Duos, Trio, Quartets, with and without tape - creating an extraordinary number of more than 200 combinatorial possibilities. Other works were created recording synthesized sounds and using human voice mixing resources, such as in the Brecht Cycle. All of this electroacoustic production was conceived in his small private studio at his residence in Schriesheim, Germany.

In the case of “Diálogo ...”, completed in 1976, everything suggests that the tripartite work originated in its first and third movement the “Study in B” (sic), or better “Study in sib”. The first movement, "Introduction (Melody)", uses the second version of "Study in B" as if it were a Prelude, creating the atmosphere and setting the stage for the Dialogue. The central part where the conversation between the gong and the "rattle" takes place, is created using only these two instruments with tape manipulations. The work is concluded with the same “Study in B”, now with the participation of the gong and the rattle, concluding their relationship in the “tragic idyll”.

The work shows, as always, Santoro's synthetic and creative capacity and confirms very clearly some of its strongest characteristics: originality, the strength of expression, the ability to involve the listener, the architectural construction of the work and the ever present "fingerprint" of your personality.

Listening to this work and taking into account the instruments used, reminds me of my childhood in Germany, the cradle of the creation of all his electroacoustic production. There, in the midst of everyday life, these works emerged one by one, filling the spaces of our home and my aural memory.

Santoro moved through different styles and languages, always with the spirit of innovation and avant-garde that has accompanied him throughout his life. Unfortunately his electroacoustic production survived only on a few magnetic tapes, which still need to be restored before they are lost forever. I am hopeful that valuable initiatives like this album will lead to other projects aimed at recovering Santoro's electroacoustic production, which is so significant for understanding his musical legacy.

By Alessandro Santoro (September 2020)

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Cláudio Santoro (Manaus, 1919 - Brasília, 1989) was a composer, conductor, violinist and teacher. He is undoubtedly one of the most significant names in 20th century concert music in Brazil. His production is as numerous as it is diverse. Santoro went through contrasting compositional tendencies during his life. At different stages he composed pieces of a serial character, approached socialist realism, made works of a nationalist character and flirted with experimentalism and electroacoustics. He spent a relatively long period in Germany in the 1970s when he produced several works using electronic resources.